O Rádio como possibilidade para educar
Carla Jaqueline Oliveira de Oliveira[1]
RESUMO: Este artigo tem por objetivo refletir sobre o uso do rádio na educação, sobre as possibilidades dos professores fazerem uso dessa tecnologia nas escolas incorporando-o nas práticas pedagógicas. Traz exemplos de como educadores podem desenvolver trabalhos com seus alunos usando a linguagem radiofônica, de como a escola pode trabalhar em parceria com rádios comunitárias explorando seu potencial de comunicar sem fins lucrativos e ainda aborda os desafios a serem superados quanto ao uso do rádio e a formação do professor para o uso de mídias nas escolas.
PALAVRAS-CHAVE: Rádio. Escola. professor.
INTRODUÇÃO
No final do século XIX a comunicação no mundo não seria mais a mesma, pois, Guglielmo Marconi (1874) inventou o rádio no anos de 1895. Apoiado nos estudos de Heinrich Hertz e Augusto Righi, esse inventor mostrou que era possível transformar as ondas eletromagnéticas em mensagens, músicas, programas a serem transmitidos em um aparelho que desde sua criação adquiriu vários formatos e funções na sociedade mundial e brasileira. No Brasil o rádio chegou nas primeiras décadas do século XX. O grande interesse, investimento e divulgação que Edgard Roquete Pinto demonstrou ter pelo rádio fez com que ele fosse considerado “o pai do rádio” aqui no Brasil. Pretendo abordar nesse estudo a função que o rádio passou a ter na educação, ou seja, como os profissionais de educação podem fazer uso deste, quais as vantagens que essa tecnologia, o rádio, pode trazer na prática pedagógica e dificuldades e desafios a serem superados.
O RÁDIO NA ESCOLA
O rádio tem um potencial educativo inegável pelo fato de se constituir um meio de comunicação de massa, ou seja, atinge grandes grupos de pessoas presentes em lugares distantes ou pertos. Com ele, se pode comunicar, entreter e educar. Essa educação através do rádio já acontece nas escolas públicas do Brasil e os órgãos de governo já promovem políticas públicas de incentivo ao rádio, como por exemplo, o programa do governo federal Rádio-Escola do Ministério da Educação e Cultura que tem como objetivo a formação para as mídias.
O Rádio-Escola apresenta uma característica peculiar na sua constituição enquanto programa educativo, ou seja, as aulas já encontram-se gravadas, estando divididas em três blocos: um para os professores, outro para os alunos e por fim um para radialistas que queiram usar nas rádios comunitárias. Com isso, educadores e educandos apenas recebem informações já prontas, não havendo a possibilidade de produção tanto do professor como dos alunos. Não há também interatividade, e esses elementos tais como produção do individuo em processo de formação e a interatividade são apontadas como fundamentais para o uso de mídias na educação, como aponta Ferreira e Bianchetti (1992):
"No âmbito educacional, a utilização da interatividade como forma comunicacional entre professor e aluno provoca um repensar da educação enquanto transmissão de conteúdos lineares, hierárquicos e sistematizados, pautados no falar/ditar do mestre. A interatividade na sala de aula oferece a possibilidade de novas relações criadas a partir das trocas interativas no sentido todos-todos, em que não há saberes hierarquizados, mas uma construção coletiva (...) A interatividade potencializada pelas tecnologias digitais possibilita uma aprendizagem em que o aluno irá trilhar seus próprios caminhos, traçando sua cartografia com base nos seus desejos e necessidades, realizando também trocas dinâmicas e instantâneas com os demais sujeitos envolvidos no processo de produção.” (FERREIRA E BIANCHETTINI, 1992, p.257)
Os autores expressam em suas idéias que as tecnologias devem ser usadas nessa perspectiva de participação dos sujeitos no processo de produção, que possibilite a interatividade entre eles. No caso da Radio-Escola isso não é possível ou torna-se bastante limitado, mudando apenas os métodos de transmissão dos conteúdos hierarquizados e sistematizados, ao invés do quadro negro, se utilizará o computador.
Por isso, para que o rádio possa ser usado na escola é preciso que diretores, coordenadores, em especial professores saibam das vantagens que essa tecnologia pode trazer para o ensino e a aprendizagem dos alunos, e estes possam se apropriar da linguagem radiofônica participando do processo de criação, produção e apresentação de trabalhos escolares e pessoais, dando um significado produtivo aos conhecimentos adquiridos na escola. Como ressalta Gonçalves e Azevedo:
"O uso do rádio no espaço escolar constitui-se numa modalidade que possibilita a toda comunidade escolar a oportunidade de analisar com critérios objetivos e a partir de um contato real com um meio de comunicação, a grande quantidade de informações que se recebe diariamente dos meios massivos. O rádio na escola torna-se um elemento que, enquanto ação educativa, prioriza a auto-estima e a autovalorização dos membros da comunidade, permitindo sua expressão, através da ampliação de sua voz, tornando-os agentes e produtores culturais.” (GONÇALVES, AZEVEDO, 2004, n. 2)
Usar tecnologias em sala de aula requer do professor e da escola a competência de saber explorar todos os recursos necessários para garantir uma aprendizagem significativa dos alunos, em que estes possam se constituir autores e produtores de saberes, os quais antes eram apenas expostos a eles. Esse é um grande desafio, por que, mesmo havendo estudos e autores defendendo as potencialidades educativas das tecnologias a rejeição à elas enquanto métodos de ensino ainda é muito grande por parte dos educadores Ferreira e Bianchetti explicam que:
educar com as novas tecnologias significa propor desafios que possam ajudar o aluno a entrar no labirinto da informação... pois cada link estabelecido é uma oportunidade de rever os conhecimentos já construídos e construir novos saberes. Nesse sentido, o professor não estabelece um caminho, muito menos um mapa ou uma rota. É importante que o aluno crie seu próprio percurso, produzindo a sua teia de informações, interligando os saberes e realizando a permutabilidade-potencializadade própria das redes digitais. (FERREIRA e BIANCHETTI,1992, 257 n. 22)
Claro que essa nova perspectiva de educação não é tão fácil de ser colocada em prática e entendida pelos alunos, porque, eles estão acostumados com métodos que visam apenas a reprodução de conteúdos, pois, fomos e estamos sendo educados a sermos apenas receptores de informações. A educação básica no Brasil tem essa característica, então, não é simples mudar concepções já enraizadas dos professores.
POSSIBILIDADES E DESAFIOS COM O RÁDIO NA ESCOLA
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Rádios, como as de chamadas restritas, que fazem transmissões de 220 Mhz a 270 Mhz, não são captadas nas rádios convencionais, pois só podem ser ouvidas em caixas receptoras especiais. Estas já são usadas nas escolas com a difusão dos programas de rádio ocorrendo através das caixas de som que ficam distribuídas em diferentes ambientes da escola como pátio, corredores, salas de aula.
Essa é uma possibilidade do professor estar instigando os alunos a produzirem seus trabalhos para divulgar na escola. O professor poderá trabalhar o conhecimento de sua disciplina orientando os alunos a elaborarem trabalhos em que eles possam mostrar o que aprenderam durante a unidade ou o ano letivo. É uma forma diferente de avaliar a aprendizagem dos alunos, por que, ao invés apenas de prova escrita ou seminários expositivos o professor poderá analisar na produção dos alunos o que foi trabalhado em aula por ele. E ele pode articular os trabalhos desenvolvidos pelos alunos das diferentes turmas em que leciona, assim como também seu trabalho com os outros professores da escola, integrando as diferentes áreas do conhecimento, promovendo uma interdisciplinaridade entre os conhecimentos, pois, em muitos casos, percebe-se que o professor trabalha isolado. Por isso usar rádio nas escolas requer investimento na formação e conhecimento dos professores, por que eles precisam saber com que objetivos pedagógicos irão fazer uso dessa tecnologia.
Por exemplo, o educador pode, com suas turmas de alunos estabelecer grupos que possam produzir músicas, entrevistas, poesias para serem apresentadas na escola que tenham ligação com os conteúdos trabalhados por ele durante o ano ou com conteúdos trabalhados por outros professores de disciplinas diferentes. Também pode trabalhar em conjunto com as rádios comunitárias que são espaços cuja finalidade é promover a cidadania da comunidade.
As rádios comunitárias podem ser grandes aliadas da escola no processo educativo que utiliza como meio de comunicação o rádio. Isso por que a maioria das rádios que detêm expressiva audiência no Brasil são as ditas comerciais, que trazem uma programação carregada de propagandas, que enfocam o consumo e promovem difusão de músicas com o objetivo apenas do lazer. Não ocorre entre locutores e ouvintes uma interação ou participação direta na programação, ficando claro que os objetivos dessas rádios são comerciais, pois são empresas com fins lucrativos. Então, como contrapartida as rádios comunitárias trazem outra proposta de trabalho, pois, são compostas pela comunidade local, com todo material veiculado produzido pela própria comunidade e não podendo veicular propagandas comerciais. É um esforço para que as pessoas que compõem a comunidade possam se expressar, produzir, e exercer, a cidadania.
Mas as rádios comunitárias enfrentam problemas como salienta Amaranti ( 2004):
Vários estudos têm contribuído para aprofundar a temática da comunicação comunitária, ora considerando as experiências bem-sucedidas, ora constatando as dificuldades da participação popular para a continuidade dos modelos de comunicação educativa voltada ao desenvolvimento social local. Verifica-se que inúmeros fatores têm impedido a expansão dessas rádios. Além dos entraves burocráticos para a concessão de canais por parte dos Ministério das Comunicações, elas carecem de infra-estrutura material e financeira, de recursos humanos competentes, de assessorias, ou sofrem pela desarticulação de experiências. (AMARANTI, 2004, p. 2-3.)
Escola e comunidade podem trabalhar juntas com o objetivo de amenizarem seus problemas e somarem esforços para introduzirem a comunicação comunitária, que envolve participação de todos, de modo interativo.
É preciso superar também as resistências que os professores apresentam em relação ao uso, nas práticas pedagógicas, das tecnologias. Alguns argumentam que as tecnologias podem atrapalhar as aulas, que dispersam os alunos, que devem ser usadas somente para distração, outros apontam que não possuem conhecimentos tão específicos para manusearem certos aparatos tecnológicos, que é muito difícil, que não receberam formação adequada suficiente, e esse ponto é até considerável, pois realmente o professor não é formado para trabalhar com as diferentes linguagens tecnológicas. Mas há ainda professores que argumentam que as tecnologias podem substituir o professor na sala de aula. Deve-se considerar que é indispensável pensar em educação pública articuladas com políticas públicas para uso de tecnologias nas escolas. Para, vencer esses desafios, é necessário que os governos possibilitem as condições adequadas que a comunidade e a escola precisam para colocarem em prática o que planejam e almejam, e que estas possam cobrar esses investimentos, para colocar suas ações em prática de forma autônoma, responsável e com fins voltados primordialmente para educação.
CONCLUSÃO
O rádio é uma excelente oportunidade de uso pedagógico das tecnologias nas escolas públicas, desde que haja investimentos dos governos federal, estadual e municipal para garantir que esse recurso tecnológico chegue aos alunos, assim como também é importante que se inclua na formação do professor a competência para educar com as tecnologias. Vários exemplos já evidenciam as potencialidades do rádio para educar e isso já é reconhecido pelo governo federal que disponibiliza o programa Rádio-Escola para professores, alunos e radialistas, mas, deve-se considerar que esse programa não permite a interatividade, produção do professor e alunos de forma que se possibilite a construção de conhecimento e não apenas sua assimilação e reprodução.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
AMARANTE, I. M. Rádio comunitária na escola: protagonismo adolescente e dramaturgia na comunicação educativa. 2004. Dissertação de Mestrado em Comunicação Social – UMESP: Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 225 p.
FERREIRA, Simone de Lucena; BIANCHETTI, Lucídio. As tecnologias da informação e da comunicação e as possibilidades de interatividade para a educação. Revista da FAEEBA/ Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação I – v. 1 n.1 (jan./jun., 1992) – Salvador: UNEB, 1992 – Periodicidade semestral.
GONÇALVES, Elizabeth Moraes e Azevedo, Adriana Barroso de. Rádio na escola como instrumento de cidadania: Uma análise do discurso da criança envolvida no processo. Revista Acadêmica do grupo Comunicacional de São Bernardo. Ano 1, n.2, 2004.